quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

When faced with two choices, simply toss a coin. It works not because it settles the question for you, but because in that brief moment when the coin is in the air, you suddenly know what you are hoping for.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011


Cada suspiro doía. Cada mínimo movimento arranhava suas entranhas profundamente. Cada pensamento a levava a mais consciência quando tudo que queria era o torpor para esquecer a dor e os acontecimentos recentes.
Ela tinha um último pedido a fazer. Mas doía demais puxar o ar, doía demais fazer esforço para falar, e pior: iria doer mais ainda quando ela o visse. Mas essa última não seria uma dor física. É uma dor que ela vem sentindo há anos e anos. Uma dor que a levou à insanidade, que a levou a se machucar fisicamente tamanho era o que sentia por dentro.
Machucava-se fisicamente, pois queria alguma outra dor que pudesse ser suportável, que conseguisse estancar o sofrimento, que fizesse com que ela se esquecesse de tudo que aconteceu.
Ela desejou ser surda, cega e muda para nunca ter ouvido aquelas palavras. Palavras que machucaram mais que atos. “Eu não te quero mais. Não te amo mais. Acho melhor nós nunca mais nos vermos de novo. Adeus.” Palavras mudas ecoavam na mente dela. Não ditas por alguém, nem escritas em algum lugar. Apenas lembranças horríveis de um passado dolorido demais para ser lembrado.
Mesmo se lembrando das palavras dele, sobre nunca mais se ver, ela precisava que esse último pedido fosse atendido. Depois, nunca mais encheria ninguém. Nunca mais seria um estorvo na vida de outra pessoa.
Virou um pouco a cabeça para o lado, chamou a mãe que repousava sob uma poltrona preta e pediu que ligasse para ele. A mãe queria dizer não, mas sua filha estava lhe fazendo um último pedido, e sua intuição de mãe lhe dizia que era o último.
Chamou o pai para se despedir da filha e depois ela mesma se despediu, dizendo que atenderia seu pedido. Forçou-se a não chorar na frente da filha. Por mais difícil que fosse se segurar, conseguiu porque queria que a filha fosse para o outro mundo tendo uma lembrança feliz da mãe.
Mais ou menos meia hora depois, ele chegou. Parou na porta do quarto e ficou horrorizado ao ver o estado dela. Tinha ouvido falar do acidente, mas não achava que tinha sido tão grave. Não conseguia se mexer, pois suas pernas estavam travadas de medo. Medo de perdê-la mais uma vez.
Mesmo assim, forçou as pernas a se moverem até o lado dela e a segurar sua mão. Tinha medo de chegar mais perto, pois ela parecia tão frágil quanto um vaso de porcelana prestes a atingir o chão.
Ela estava de olhos fechados, mas quando sentiu o toque inconfundível da mão dele, os abriu na hora. Seus olhos castanhos melados se fixaram nos dele pelo que pareceu um bom tempo. Quando finalmente conseguiu falar, disse:
- Eu só queria dizer que te amei mais que tudo. Que dei tudo de mim para você, mas não foi suficiente. Eu entendo porque se afastou. Não o culpo por isso. Aliás, não o culpo por nada. Só queria dizer que cada minuto que passamos juntos foram os melhores momentos da minha vida e eu não me arrependo de nada. Eu ainda te amo imensuravelmente.
Depois de tanto falar, ficou mais fraca do que já estava. Mas sua dor interna foi sufocada por uma onda de alívio. Ele não conseguia falar, pois quem sentia muita dor era ele. A mesma dor que ela sentiu por tanto tempo, ele estava sentindo (mais intensamente) agora.
- Tudo que eu fiz, foi por você. Você parecia extremamente sufocada e presa quando estávamos juntos. Achei que seria melhor te dar um espaço. Você parecia precisar de um tempo longe de mim, de um tempo longe de nós. Eu nunca deixei de te amar. Nunca consegui seguir minha vida sem você. Nunca consegui ficar bem. Mas continuava achando que você tinha superado e tinha ficado bem sem mim. Se eu soubesse o quanto você sofreria, como sofreu, nunca teria te deixado nem por um segundo. Arrependo-me de ter te deixado. E tudo que eu falei naquele dia sobre não te amar, nunca deixou de ser a pior mentira que já contei. Sim, eu ainda te amo mais do que tudo.
Ela levantou a mão e pousou sobre o rosto dele e disse suas últimas palavras:
- Obrigada, era tudo que eu precisava ouvir para partir em paz.
Sorriu para ele e fechou os olhos ainda sorrindo, enquanto o aparelho que estava ligado a ela soava terrivelmente como o fim de tudo.