terça-feira, 2 de março de 2010

Crises e espantos.


- Esse é o período da crise econômica... - quem estava em crise era ela, e por vários motivos ! Mas o que realmente estava consumindo toda a sua atenção e energia naquele momento, era ele. O seu passado, seu presente, e ao que tudo indicava, seu futuro também.
Ela se sentiu sendo observada, mas não do jeito normal de se olhar, e sim de um jeito que ela sabia, mesmo sem olhar, que transmitia frustração, ela sabia que eram aqueles olhos cinza profundos que a observavam tão ardentemente.
Curiosa e dona da verdade como sempre, quis olhar para ter certeza. E enquanto estava havendo um conflito em sua mente sobre olhar ou não olhar, tomou uma decisão impulsiva; o que não era nada normal para uma garota como ela. Ao se virar, a confirmação de sua incerteza foi dada. Frustração, surpresa, medo, paixão, vergonha... Uma enxurrada de emoções passou pelo rosto dele antes de se virar e fingir que estava olhando a lousa.
Confusão se passava pela mente dela, e transparecia em seu rosto de pele clara com as bochechas ardentes em chamas pela vergonha de ter pego ele olhando para ela.
'Mas... vergonha por quê ? Por quê ele estava frustrado ? Por quê desviou o olhar ? Por quê estava olhando para mim ? Por quê ELE ficou com vergonha ? Por quê estou vendo tudo embassado ? Por quê, por quê, por quê... ?'
Tantas perguntas e nenhuma resposta. Todas aquelas dúvidas estavam deixando-a com dor de cabeça. Decidiu abaixar a cabeça para tentar pensar com mais clareza e ver se aliviava um pouco a dor, mas uma coisa chamou sua atenção. Uma gota brilhando em sua mesa. Ela estava chorando. Depois de 3 anos, lá estava a prova da falha de sua auto-promessa.
Não tinha como fingir que estava se sentindo fraca, sua face parecia um espelho de seu interior. Ela devia estar feliz por pegá-lo olhando para ela. Mas estava chorando, talvez até de felicidade. Mas não importava, porque a fraqueza a dominava naquele momento.
Mas naquele momento, o sinal tocou e como era sexta-feira, todos foram embora o quanto antes possível. Só restou ela, naquela sala que agora parecia imensa perto dela que se sentia menor que um rato de laboratório. Ela arrumou seu material devagar, e com os pensamentos longe.
Desceu as escadas devagar, passou pelo pátio como se fosse um fantasma, e foi a pé para casa, como de costume. Ouvindo suas músicas preferidas, deixando as lágrimas cair lentamente pelo seu rosto e com a cabeça baixa, não percebeu que Mike estava na outra calçada, observando-a passo por passo, ouvindo seus batimentos cardíacos e acompanhando sua respiração ofegante.
Ele sabia que Rachel não tinha visto ele, e ele também sabia o que estava pra acontecer. Atravessou a rua, mas foi tarde demais. Ela já estava no chão, com todos os livros esparramados, oculos rachados e cotovelos e joelhos arranhados.
Com os cabelos colados no rosto molhado de lágrimas, ela não viu que alguém se aproximava e com o simples atrito do toque de suas peles, o coração dela parou por um segundo ou dois.
Ela não precisou levantar os olhos para saber que era ele que estava lá. Seu perfume e a eletricidade que irradiava de sua pele eram suficientes para ela saber com certeza que era ele.
Mike a ajudou a pegar todos os cadernos e seus óculos, que ele percebeu, haviam quebrado com a queda e a segurou pela mão para ajudá-la a se levantar. Com certa dificuldade de concentração, pois pela primeira vez, ela estava realmente olhando no fundo daqueles olhos que de longe pareciam rasos, mas de perto, pareciam o espelho de sua alma, ela finalmente agradeceu, quando voltou a si.
Percebendo que as bochechas dela ficaram em brasa, ele deu seu meio sorriso que deslumbraria qualquer um, menos a única pessoa que ele realmente queria deslumbrar. Ela. Mas decidiu tentar, e deu certo. Por um momento, ela se esqueceu de respirar e começou a ficar tonta, mas graças à um carro que passou e chamou sua atenção, desviando dele, ela se lembrou de como expirar e inspirar. E sorriu também.
Só o que ele não esperava é que o sorriso dela iria deslumbrá-lo mais do que o dele iria afetá-la. Ele se sentiu, de um certo modo, perdido. Nada mais no mundo importava ou existia para ele, só ela.
Nada mais foi feito. Ela seguiu seu caminho de volta para casa e lembrando do sorriso dele. E ele não conseguia se mexer. Parecia que o sorriso dela tinha arrancado a ligação de seu cérebro com os músculos, porque ele simplesmente não conseguia colocar um pé na frente do outro.
- Oh, meu Deus ! O que aconteceu com você ? Com seus óculos ? - sua mãe lhe tirou a concentração, e finalmente ela percebeu que seus óculos estavam quebrados.
- Tropecei numa calçada desnivelada. - ela respondeu vagarosamente. E se deu conta de que teria que ficar sem usar óculos por um bom tempo, enquanto não chegassem novos.
O final de semana passou rápido, e ela nem conseguiu ler direito seu livro pois não conseguia se concentrar. Só conseguia ficar olhando pr'aqueles arranhões que eram a prova de que ele se importava com ela. De que ele ajudara ela.
Segunda-feira, um péssimo dia para qualquer um, praticamente. Menos para ela, que ansiava pelo momento de vê-lo. E para ele também, que mal conseguia esperar para entregá-la os óculos novos que demorou tanto para escolher.
Sem os óculos quadrados para enfeitar seu rosto, ela usou lentes. E logo que chegou, com os cabelos ao vento, ele a viu. Pela primeira vez, ele a viu sem aqueles óculos que só serviam para ajudá-la a se esconder.

4 comentários:

  1. Fazer um eleitor reconhecer um sentimento usando palavras é uma habilidade grandiosa demais

    ta muito incrivel biiii consegui senti a tristeza da rachel e do mike separados e o amor que existe entre eles qdo eles estão perto

    To muito orgulhoso de vc biii bjaoo

    tuuu

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  2. AMEEEI! *-* muito boom Gabii

    amandaanberlin

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  3. mt tocanti e profundo,ao mesmo tempo que o casal sofre,tbm tm seu momento de amor.sinceramenti amei o que vc fez

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  4. aaah gabi, que fofo, cara ! gooooostei, hahaha. Giuliana Wazen

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