terça-feira, 3 de julho de 2012

Às 4h da manhã, ela caminhava sem sono pela casa mal iluminada. Tropeçava nos móveis, mas nem ligava. A dor interna que sentia era suficiente para aplacar qualquer mínima dor física que viesse a sentir.
Um feixe de luz entrou pela janela, e iluminou seu pulso. Ainda cicatrizando lentamente. Um puxão forte no estômago, sem comida, e ela começou a tossir. Quando voltou a si, percebeu que tinha sangue nas mãos. Deveria ter se sentido preocupada, mas nem ligou direito. Foi até o banheiro lavar as mãos e percebeu que era de sua boca que saía o sangue. Lavou o rosto, e assim a moça do espelho começou a conversar com ela. A moça era bonita, mais velha, e tinha um rosto cheio de coragem e atitude. Disse-lhe que queria poder ter sobrevivido, e que fez de tudo para isso, mas não conseguia aguentar mais. Continuou, falando que ela era forte o suficiente para aguentar isso e muito mais, que estava por vir, e continuar firme, ao contrário de se entregar, do jeito que estava fazendo. A dor era forte, profunda e não parecia se curar nunca. E a moça entendia perfeitamente, mas explicou que se não fosse pela dor, ela jamais aprenderia e não seria tão forte quanto é.
Ela tentou responder, mas quando foi abrir a boca, a moça do espelho foi-se embora e deixou apenas seu reflexo doentio para ela contemplar. Foi até a cozinha, tomar um copo de água com açúcar mas seu estômago rejeitou veementemente, fazendo-a jogar tudo fora na pia, junto com mais uma leva de sangue.
Não aguentou e deixou-se cair no chão da cozinha. Abraçou os joelhos e chorou. Chorou, chorou, chorou. Chorou até quase cuspir os pulmões. Não conseguia parar. Não tinha mais forças para se levantar e continuar.
A moça estava errada. Ela era fraca. Fraca, sonsa, idiota, vulnerável. 
Seu telefone começou a tocar. Deixou tocando, até cair na caixa postal. Era um recado de seu pai, pedindo que ela voltasse para casa assim que pudesse. Ele estava com saudades.
Decidiu se levantar e aguentar um pouco mais.
Gastou 1h30 de viagem de volta para casa de seu pai, e assim que chegou descobriu que ele estava internado em estado grave.
Ele estava 'dormindo' tranquilamente, acompanhado de alguns monitores, sua namorada e um bilhete ao seu lado.
'Mamãe falou comigo durante meu 'sono', pediu-me que te dissesse para você ser forte, e que ela mesma iria tentar falar com você.'








PS.: perdoem-me pelo final meio sem nexo. Ele acabou ficando extremamente pessoal, e estou sem condições de terminá-lo.

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